Depois de tantas magias iniciáticas, noite ou dia fora e longe, “no estrangeiro”, novas cumplicidades, uns possíveis beijitos atirados ao vento gélido e ibérico, na esquina de uma qualquer “calle”, muitas promessas ingenuamente carregadas de amor eterno, ao som repicado das velhas campanas da Reconquista Cristã, amor misturado com “fogo que arde sem se ver”, alguns saltitos no desconhecido, certos sentimentos meio confusos, mas teimosos e insistentes de que é preciso crescer na aventura do saber, da procura de soluções sempre mais e mais criativas, da busca sustentada na experimentação, nesta ideia teimosa de que tantos conseguem, não porque sejam mais espertos ou tenham muito jeitinho, MAS PORQUE TRABALHAM, PORQUE VALORIZAM O SEU ESFORÇO PESSOAL E NUNCA SE CONTENTAM COM O ÓBVIO, COM O BANAL, COM O “DÉJÀ VU” OU COM O “LUGAR COMUM”, ACENDENDO SEMPRE AS FOGUEIRAS NOVAS DA IMAGINAÇÃO.
Claro que valeu a pena trazer todo este mundo de significantes a arder para casa, para o quotidiano, “p´rá Soares” a fim de agora os retalhar, com pachorra, derramando-os na espuma dos dias, para fazê-los “coisa/causa” nossa de uma matéria plástica que nos sirva para embrulhar a vida - aquela que nos obriga a estudar, a cumprir horários, a viver as mil e uma rotinas que nos moem a alma, nestas cinzenturas de inverno –como gente que levanta a cabeça, que fixa o horizonte e sabe ir mais além no caminho do sonho, ou seja, que assume o único sentido que a vida possui e que cada um tem que aprender por si: AMAR AS ESTRELAS.»
Escrevi estas palavras numa outra passada visita a León e aos seus lugares de “peregrinação artística”, fossem eles a Catedral, a Colegiata de San Isidoro ou o Musac. Desta vez, os meus olhos fixaram o olhar superlativo de muitos espantados alunos perante o fulgor dos reflexos multicolores dos vitrais da Catedral, da luminosidade penetrante de um fim de tarde de inverno. Bem duro e pontuado pelas brancuras das montanhas circundantes cobertas agora pelas neves quase eternas, contrastando com as planuras verdes onde pastam grossas manadas de carne tenra.
Mas não deixaria de sublinhar as impressões que recolhi de interesse urbanístico, de capacidade e de gosto em fixar, nesse recantozinho da Memória que nenhuma máquina pode reproduzir com idêntica fidelidade, todos aqueles finos recortes com que a alma nos povoa os sonhos, um espaço pessoal para o ainda há pouco desconhecido e quase a guardar como recordação que nos haverá de habitar o todo da experiência. Porque parece-nos a nós, pobres adultos encartados de “sabichice”, que os nossos jovens alunos andam por demais distraídos no mundo em que vivem, não reparam no que é óbvio, as suas consolas nunca incluiriam pássaros, as cegonhas de Toral de los Guzmanes seriam uma abstracção demasiado fortuita ou até filosófica, nunca existiriam as “carnavalices”deliciosas dessa exposição temporária da Caja España, situada na Casa Botines de Antoni Gaudi, en León, criadas pelos Designers de Moda de todas as Cibeles deste mundo, tais como Ágatha Ruiz de
Porque tem que se lhe diga sair do país, em visita de estudo, levar uns papéis com guião e umas folhecas para desenhar, para esquissar, lançar jovens moços, a tal “Juventude = divino tesouro”, de que falava o poeta Ruben Dario, para fora de fronteiras, colhendo experiências, vendo como os outros vivem, se cuidam, se relacionam nas ruas, passeiam e amam, prezam os seus bens e património, pessoas e seres. Precisamos de arejar os nossos caminhos e de os povoar com muitos mais sonhos. É que, por mais que nos custe aceitar as evidências que muito boa gente desdenha, há sempre muitas mais borboletas a pairar na cabeça dos nossos alunos: a questão está em saber a melhor forma de as abanar para que elas bailem!
José Melo ( Professor de Filosofia)
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