sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

ENTRE O KAIROS E O CRONOS


ENTRE O KAIROS E O CRONOS,
uma colega marcante: a Teresa Paula.

O filósofo francês Louis Lavelle afirmou que a noção de valor era aquilo que possibilitava distinguir alguma coisa, retirá-la ou arrebatá-la do mundo da indiferença, destacando nessa luta esforçada a natureza única de um ser, de um objecto, de uma qualidade, de uma pessoa. Nesse sentido, admitir ou aceitar um valor seria impor ou considerar a sua diferença, especificidade, unicidade, preferibilidade.
Esta referência vale acima de tudo e aqui para a Teresa Paula: como pessoa, como valor, como ser humano, inseparável da sua função de professora, de mestra, de colega e de amiga. Ou de elemento participativo em órgãos da vida desta comunidade a que pertencemos. O seu dinamismo, frontalidade, entusiasmo, “narizismo” ao alto, associados a uma capacidade invulgar de trabalho e a uma seriedade, aliada à especialidade hoje rara de fazer bem feito, sem falsas modéstias, tudo isto trouxe uma mais-valia para a nossa escola Soares dos Reis, desde há largos anos, aqueles que com ela convivi, talvez vinte e tal. Com muita assertividade e sentido de afirmação, nunca fácil nem facilitador, mas franco e leal.
Porque a Teresa Paula, - é preciso sublinhá-lo – foi e é um pilar da “nova” Soares dos Reis: com a dedicação de anos de trabalho, com o seu empenho nas reformas do ensino artístico, com os projectos para esta tarefa sempre inacabada da especialização. Mesmo sem se tratar de alguém do chamado “antigo 5º. Grupo”. Sabemos da sua dedicação à causa da aprendizagem da ciência, programando as semanas da Físico-Química, com os laboratórios abertos e empenhados, com uma dimensão lúdica, na realização de experiências que traziam uma aproximação inevitável entre a Arte e a Ciência e serviam (ou servem ainda!) para desmistificar esse distanciamento tão absoluto entre o Conhecimento e a Vida. Reconhecemos também, porque fomos testemunhas directas, leccionando nas mesmas turmas, em tantos anos sucessivos, do esforço pedagógico da Teresa, agrupando e coordenando equipas de trabalho, com as portas das salas sempre abertas, tornando possível o sonho e o “milagre” de tantos alunos (alguns autênticos e reconhecidos “manguelas”!)  de conseguirem passar com sucesso à sua disciplina proverbialmente tramada. E não me consta que se tratasse de favor! Ela, a Teresa, lá sabia dar-lhes a volta, com aquele sorrizinho maroto que faz dela uma eterna adolescente agora já “de uma certa idade”. Ora aqui fica a questão a que inexoravelmente temos de chegar: estávamos tão entretidos com esta prodigiosa noção de tempo que os gregos inventaram (eles que tudo inventaram, a partir da nossa mais importante ferramenta – a Racionalidade!), que é ou foi o kairós, o tempo oportuno, aquele onde tudo acontece no momento apropriado, exacto, intuitivamente único (sim esse mesmo, o do eureka!) e eis que surge esta coisa medonha de “contar o tempo de serviço”, de verificar os anos, os meses, os dias que nos restam para a aposentação (essa outra coisa medonha que eu associo muito ao acto de sentar, de calças na mão, num certo sítio!), para a reforma! Cumpriu-se um ciclo biológico! Ou seja, para todos os efeitos, o titã Cronos venceu! Assume a sua tarefa de devorar, uma vez mais os seus filhos, mesmo os mais dilectos, ainda que quase ao nascer! Como haveremos nós que pedir a uma Métis/Prudência para nos restituir, qual novo Zeus, a nossa Teresa? Haveremos de o conseguir estou/estamos todos certos! Seja com o convívio, com a amizade, com formas novas a inventar de estarmos juntos: na escola, na cidade, nos cafés, na casa uns dos outros, em Arouca. Porque os netos hão-de crescer! Mais rápido do que nós contamos. Um abraço, Teresa e toda a nossa amizade.
José Melo EASR, 30/11/2010.

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