Não posso adiar o amor para outro século não posso ainda que o grito sufoque na garganta ainda que o ódio estale e crepite e arda sob montanhas cinzentas e montanhas cinzentas
não posso adiar este abraço que é uma arma de dois gumes amor e ódio não posso adiar ainda que a noite pese séculos sobre as costas e a aurora indecisa demore não posso adiar para outro século a minha vida nem o meu amor nem o meu grito de libertação
Foi ele quem me a apresentou. Pétrea nívea exangue. Meus lábios:à face da morte. Nunca a tinha beijado antes.
O FACTO DA MORTE
Austero sobre o colchão o fato para levar no esquife da sua morte. Nem uma nódoa ou mácula. O fato que lhe pesou na boa-morte de tantos é esse que o vai levar ao seu próprio ritual. Atónitos vamos passando o memento uns-aos-outros enquanto a Mãe aturdida à pergunta das gavetas por uma que vá camisa com a gravata que entretanto. Nenhum de nós acredita ainda que ele morreu. Enquanto estiver vazio aquele fato da morte ninguém sequer admite que esteja morto da facto.
PÁSCOA BAIXA
Durante a manhã inteira a barba ainda cresceu. O vórtice que me picava ao fim de um dia de trabalho já o posso adivinhar neste círculo de flores. O seu torso é imóvel. Nada diviso a mover-se (um relâmpago das pálpebras? o pensamento de um dedo?) velo a hesitação da barba qual néscio agarrando tempo. Durante a manhã de março a barba ainda cresceu qualquer coisa dentro dele ainda não queria morrer.
VASILHAME
Paredes-meias com o muro onde jaz o contentor cheio de vidros vazios que a queda torna iguais ergue-se um cipreste esguio que anuncia o jardim onde eles lançam os corpos - a tara perdida da alma.