sábado, 2 de maio de 2009

4 - POEMAS de JOÃO LUÍS BARRETO GUIMARÃES

CALAFRIO

Foi ele quem me a apresentou. Pétrea
nívea
exangue. Meus lábios:à face da morte.
Nunca a
tinha beijado antes.

O FACTO DA MORTE

Austero sobre o colchão o fato
para levar no esquife
da sua morte. Nem uma nódoa ou mácula. O
fato que lhe pesou na boa-morte de tantos é
esse que o vai levar ao seu
próprio ritual. Atónitos
vamos passando o memento
uns-aos-outros
enquanto a Mãe aturdida à pergunta das gavetas
por uma que vá camisa com a gravata
que entretanto. Nenhum de nós acredita ainda que
ele morreu. Enquanto estiver vazio aquele
fato da morte
ninguém sequer admite que esteja morto
da facto.

PÁSCOA BAIXA

Durante a manhã inteira a barba
ainda cresceu. O vórtice que me picava
ao fim de um dia de trabalho
já o posso adivinhar
neste círculo de flores.
O seu torso é imóvel. Nada
diviso a mover-se (um relâmpago das pálpebras?
o pensamento de um dedo?)
velo a hesitação da barba qual
néscio agarrando tempo.
Durante a manhã de março a
barba ainda cresceu
qualquer coisa dentro dele ainda
não queria morrer.

VASILHAME

Paredes-meias com o muro onde jaz
o contentor
cheio de vidros vazios que
a queda torna iguais
ergue-se
um cipreste esguio que
anuncia o jardim
onde eles lançam os corpos -
a tara perdida da alma.

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